terça-feira, 29 de novembro de 2016

A espada de 7 pontas

Acredita-se que o Templo Shinto de Isonokami foi construído no século IV da Era Cristã. Localizado no sopé da Montanha Tenri no distrito de Nara, no Japão, este templo possui um importante significado cultural já que guarda vários tesouros nacionais. Dentre estes tesouros inestimáveis encontra-se uma lendária espada que é tratada como uma regalia imperial do Japão. Ela é chamada de Nanatsusaya no Tachi, ou "Espada das Sete Ramificações".
A espada é assim chamada porque sua lâmina possui ramificações, semelhantes a protusões que se projetam de seu corpo principal. Juntas com a ponta da lâmina principal, elas totalizam sete ramificações. A espada mede 74.9 cm de comprimento, e é feita totalmente de ferro. Uma vez que as ramificações parecem ser muito delicadas, e sua funcionalidade em combate parece duvidosa, é pouco provável que a Espada das Sete Ramificações tenha sido forjada com fins militares. Ao invés disso, ela provavelmente tinha função cerimonial. Uma inscrição gravada em ouro na lâmina central também depõe a favor dessa suposição.
De um lado está escrito:
"Em 16 de maio, no quarto ano de Tae-hwa, no final da tarde do dia de Byeong-O, esta espada de sete ramificações foi forjada com ferro revestido uma centena de vezes. Uma vez que a espada possui poderes mágicos, capazes de indicar a presença de inimigos, ela foi presenteada a um rei por um vassalo”.

Do outro lado, lê-se o seguinte:

"Nunca uma espada como essa foi forjada. Para que haja paz e prosperidade entre os Reinos de Baekje e Wa".
Esta é a grande polêmica. A inscrição não deixa claro qual é o estado suserano e qual o estado dominado.
Baekje é um antigo nome de um reino localizado na Península da Coréia, quanto a Wa, é uma antiga designação do Império do Japão. O artefato é bastante importante pois atesta o contato entre Baekje e o Japão em tempos antigos. Isso não é exatamente uma novidade, já que é consenso para muitos historiadores que estudiosos de Baekje levaram o budismo, confucionismo e o sistema de escrita chinês para o Japão. Mais importante, entretanto é que a inscrição lança uma luz sobre a natureza da relação estabelecida entre os reinos. 
De acordo com alguns estudiosos (japoneses em sua maioria), a espada teria sido ofertada como uma espécie de tributo, uma vez que Baekje seria um reino vassalo do Império do Japão. Outros pesquisadores (coreanos obviamente), afirmam que o sentido da inscrição é inverso e que o Japão seria o reino vassalo de Baekje. Uma vez que os dois reinos alternaram momentos de poder e sujeição um sobre o outro, não há como dizer ao certo qual dos dois está certo em suas suposições.
De acordo com o Nihon Shoki, tido como o segundo livro mais antigo escrito no Japão, a espada de sete ramificações, bem como vários outros tesouros teria sido presenteada ao Imperador como tributo de Baekje no quinquagésimo segundo ano de reinado de Jingu. Após essa oferta, Baekje teria acertado entregar um tributo anual. Os historiadores coreanos no enatnto contestam essa afirmação e dizem que a espada foi feita pelos japoneses e entregue como presente ao seu rei, um monarca de direito que extendia seu poder além do Mar até o Japão.
Essa discussão vigora há séculos e foi motivo de muita polêmica tanto no Japão, quanto na Coréia e um motivo de discórdia entre os dois países que vigorou até o século XX. 
Ao longo da história Japão e Coréia tiveram períodos conturbados e guerras ocasionais. Durante esses enfrentamentos, a espada era sempre o pomo da discórdia com soldados de ambos os lados afirmando que a história da espada os favorecia. 
Quando o Japão invadiu a Península da Coréia pouco antes do início oficial da Segunda Guerra Mundial, uma de suas motivações de seus generais era provar de uma vez por todas que o Império do Japão era o suserano do antigo reino de Baekje. Muitos militares japoneses, movidos pelo patriotismo alardeavam que era questão de honra provar que o Japão era o verdadeiro Senhor da Coréia. Incontáveis jovens se alistaram no exército imperial apenas com o intuito de invadir a Coréia e provar seu ponto. A maneira brutal como o Japão invadiu a Coréia na década de 1930, se deve, em parte, a essa longa disputa. As tensões entre Coréia e Japão perduraram por muito tempo e a dúvida sobre a espada veio à tona inúmeras vezes. Mesmo hoje, a Coréia do Norte, não considera o Japão uma nação amiga.
Em tempo, a espada alegadamente encontra-se em poder do Japão desde o século V. Os japoneses afirmam que a espada pertence a eles uma vez que foi ofertada por Baekje. Já os historiadores coreanos continuam afirmando que a espada foi roubada pelos japoneses em uma guerra e levada como espólio. Essa disputa aparentemente, jamais terá fim...

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